sábado, 11 de outubro de 2014

FUTEBOL É COISA DE MENINO?!


 
Em festa de aniversários é muito comum os presentes se repetirem. Geralmente os meninos ganham bolas e meninas ganham bonecas, mas, por que será que as meninas não ganham bolas, uma vez que, as brincadeiras são práticas que deveriam ser comuns a ambos os gêneros? 

O futebol está muito presente nas brincadeiras das crianças brasileiras. Os meninos começam a jogar bola desde cedo, na tenra idade eles recebem incentivos para a prática despertando a vontade de serem jogadores de futebol, craques e superatletas desta modalidade. 

Por outro lado, as meninas recebem bonecas como presentes para que desde cedo aprendam o exercício do cuidado da casa, de crianças e, assim, possam cuidar dos filhos e serem “donas de casa”. Apesar desta pedagogia cultural intensa não é difícil encontrarmos meninas brincando juntamente com meninos nas ruas, campinhos, becos ou qualquer espaço no qual seja possível “rolar uma bola”. Todavia essas meninas quando desempenham o mesmo papel que exercem nas brincadeiras de rua nos ambientes escolares são classificadas como moleque macho ou machonas. 

O futebol e o futsal assumem papel de destaque na escola por serem modalidades de esporte que a maioria dos meninos se identificam. A mídia enquanto instrumento de divulgação e perpetuação de ideologias exerce grande influência sobre a preferência dos meninos sobre essas duas modalidades esportivas, uma vez que são as mais divulgadas pela mesma. A prática do futebol faz parte do cotidiano dos/das brasileiros/as, esta paixão rotineira invade também os ambientes escolares, sendo assim é comum os professores de Educação Física vivenciarem cotidianamente situações referentes a prática do esporte. 

Os professores de Educação Física ressaltam que, ao entrarem nas salas de aula, os/as alunos/as cumprimenta-os com a seguinte pergunta: “Professor/a vai pra quadra? Vai ter baba hoje?”. Mesmo com toda essa paixão, as meninas ainda são educadas a preferir pular corda ou a assumir o posto da arquibancada que adotavam no início do século XX, onde ficavam “[...] sentadas, abrindo e fechando os leques, sérias, sorridentes, quietas, nervosas, como que ficavam em exposição [...]” (FRANZINI, 2005). Em geral, percebe-se que são poucas aquelas que não ficam de lado e/ou que reiteram a importância da vaidade de não suar, não bagunçar o cabelo, etc. Justificativas para não se entregar àquela aula em que o mais importante é chutar a bola no fundo da rede. 

As mulheres são historicamente ensinadas a assumirem lugares alheios ao da paixão da prática pelo futebol, pois “jogar bola é coisa de homem”. A prática do futebol era proibida ao gênero feminino, como dizia no artigo 54 do Decreto-Lei 3.199 de 1941 “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país.” (BRASIL. Lei nº 3.199, 1941.), sendo o futebol considerado como “esporte masculino”. 

Porém através de muitas lutas as mulheres conseguiram seu espaço no esporte. Entretanto essa conquista não foi suficiente para elas serem reconhecidas como capazes de desempenhar uma mesma atividade tão bem quanto os homens. As mesmas são consideradas frágeis e incapazes de serem atletas futebolísticas. 

Ainda prevalece a ideia de que quando as mulheres se destacam no jogo de futebol serem nomeadas pelo nome de jogadores homens: “Olha só a Neymar da escola...”. Mesmo jogando bola tão bem quando os homens, as mulheres não têm seu reconhecimento, infelizmente o machismo ainda entra em campo.



REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 3.199, DE 14 DE ABRIL DE 194.


FRANZINI, Fábio. Futebol é "coisa para macho"? Pequeno esboço para uma história das mulheres no país do futebol. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.25, n.50, Julho/Dezembro, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882005000200012>. Acesso em: 22 de maio de 2014.

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