terça-feira, 26 de agosto de 2014

A IMPORTÂNCIA DA DANÇA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA.


Catiana Nery Leal[1]

A Dança, enquanto conteúdo da disciplina Educação Física escolar, vem sendo um dos conteúdos menos trabalhados nas aulas deste componente curricular (RECHIA, S, DRA. et al. 2012). Sua presença, quase sempre, se restringe a apresentações em comemorações festivas durante o ano letivo, principalmente, nas festas juninas e as de finais de ano.
Esta situação deixa dúvidas de que este conteúdo não se posicione de modo pedagógico na escola, ou seja, conteúdos a serem ensinados no contexto escolar. A dança é uma manifestação que ocupa um espaço significativo em nossa cultura, se constitui de diferentes formas, em diferentes épocas e com significados diversos. Essa constatação indica sua relevância social e sua importância enquanto conteúdo escolar.
Mesmo com todas as problemáticas envolvendo este conteúdo da cultura corporal, a dança é um elemento importante na construção das manifestações corporais, na cultura, nas representações sociais, na arte, nas representações humanas. Por isso, deve ser tratada na escola, em todas as suas dimensões e possibilidades, preferencialmente, de modo contextualizado, aproximando-se da realidade social do aluno. Assim, explorando os amplos conhecimentos representados na cultura da dança, a Educação Física escolar estimularia a reflexão crítica dos alunos e possibilitaria o acesso a este importante conteúdo.
Nessa perspectiva, a dança é um elemento fundamental na composição do planejamento escolar, na construção cidadã dos alunos, na construção e ampliação de saberes e no desenvolvimento corporal. Segundo Pereira (2001):

[…] a dança é um conteúdo fundamental a ser trabalhado na escola: com ela, podem-se levar os alunos a conhecerem a si próprio e/com os outros, a explorarem o mundo da emoção e da imaginação, a criarem, a explorarem vários sentidos, movimentos livres. Verifica-se assim, as infinitas possibilidades de trabalho do/para o aluno com sua corporeidade por meio  dessas atividades” (PEREIRA, R.2001, p.61).

Assim como Pereira (2001), compreendo e reitero o papel formativo das práticas corporais da dança escolar, pois os alunos também se expressão através da linguagem corporal. É por meio do corpo, dançando, que os sentimentos se integram aos processos mentais, facilitando a compreensão do mundo de forma artística e estética.
A dança é uma das expressões mais significativas que integra o campo de possibilidades artísticas, contribuindo para a ampliação da aprendizagem e a formação humana. É preciso compreender que a dança é tão importante quanto qualquer outro conteúdo ensinado nas aulas de Educação Física, por isso, sua presença resignificada no currículo desta disciplina é urgente. Cabe resaltar que a intencionalidade pedagógica não deve ter como finalidade a formação de um “bailarino” na escola, precisa apenas libertar os movimentos e trabalhar as expressões do corpo por meios dos ritmos, sons e conhecimentos construídos culturalmente pela arte da dança, inserindo, progressivamente, conhecimentos relacionados às técnicas dos diferentes estilos.
O trabalho pedagógico com a dança deve valorizar os seus limites e possibilidades sem o compromisso em acertar ou errar, pois o objetivo é levar os alunos a descobrirem habilidades que desconhecem, vivências rítmicas, os contextos histórico-culturais, a reeducação postural, entre outras.
Ao pensar nesse conteúdo no contexto escolar, devemos ter como prioridade compreender a importância de uma prática que respeite o corpo e a liberdade de expressão dos alunos. Por isso, na escola não se deve procurar a perfeição ou a execução/reprodução de movimentos. O objetivo é promover os conhecimentos que a atividade criativa da dança estimula ao aluno, ou seja, ensinar e aprender a dança envolve criações, expressões, o conhecimento do próprio corpo.

            Esta tarefa demanda dos professores de Educação Física muita reflexão, estudo e pesquisa, pois os alunos não podem ser prejudicados aprendendo apenas aquilo que os professores têm mais afinidades, resumindo o currículo escolar em um único estilo que se repete todos os anos. O desafio é proporcionar o máximo de vivências corporais possíveis, transformando as aulas em um verdadeiro laboratório de criatividade.


Referências


PEREIRA, S. R. C. et al., Dança na escola: desenvolvendo a emoção e o pensamento. Revista Kinesis, Santa Maria, n. 25, p.60- 61, 2001.
MARQUES, I.A. Dançando na escola. Sao Paulo: cortez, 2005.




[1]Discente do curso de Licenciatura em Educação Física, pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia/Centro de Formação de Professores (UFRB/CFP) e Bolsista do subprojeto de Educação Física do Programa de Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID). 

quinta-feira, 14 de agosto de 2014


Lutas como conteúdo das aulas de Educação Física



Paula Cristina Santos Silva



As lutas fazem parte da cultura corporal, sendo assim, são conteúdos que podem (e deveriam) ser ensinados nas aulas de Educação Física. Segundo os PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais (1997):

As lutas são disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser subjugado(s), mediante técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa. Caracterizam-se por uma regulamentação específica, a fim de punir atitudes de violência e de deslealdade. Podem ser citados como exemplo de lutas desde as brincadeiras de cabo-de-guerra e braço-de-ferro até as práticas mais complexas da capoeira, do judô e do caratê. (PCN, 1997, p.37)

Podemos observar que este conteúdo, como os outros, requer reflexão cuidadosa na seleção e em seu tratamento pedagógico, visto a riqueza de manifestações que compõem as Lutas. Ao mesmo tempo, sua relevância social demanda que a escola ofereça condições para que os alunos se apropriem dos fundamentos teórico-prático deste conteúdo clássico da cultura corporal. Entretanto, esta não é uma tarefa fácil, já que há muitos preconceitos que perpassam este conteúdo, que geralmente está às margens dos planos de ensino de professores.
Desta forma, os professores negam os conhecimentos referentes às lutas, e que podem ser construídos através dela, por variadas motivações, como aponta Ferreira (2009):
São vários os embates acerca dessa temática, onde podemos citar algumas, como o que ocorre durante a formação dos professores, onde geralmente é enfatizada a técnica, a execução prática das lutas nos programas e cursos superiores, sendo deixado lado os conhecimentos sobre os fundamentos filosóficos das lutas por exemplo, ou ainda  deixar o “saber a prática” ser mais importante do que conhecer os conteúdos e em que as lutas podem contribuir para a formação dos alunos enquanto indivíduos emancipados. A necessidade de conhecer sobre o tema, implica na forma de fazer avaliação em sala de aula, até para avaliar as dificuldades dos alunos, tanto nas práticas quanto em alguma questão teórica. (FERREIRA, 2009, p.3)
Nesse sentido, as dificuldades e conflitos enfrentados pelos professores são acentuados, em função de haver medo de trabalhar/tratar o conteúdo. Entre outros motivos, destaca-se a técnica ou a “falta” dela, que apesar de ser tratada na graduação, segundo os professores, se dá de modo insuficiente.
São vários os temas contemporâneos vinculados às lutas, um deles é o tratamento atual de um modo geral dado às lutas, principalmente pela mídia, sendo divulgada como forma de violência, ou ainda sendo meios de garantir altos lucros, como o MMA (Artes Marciais Mistas), que movimenta um rendimento alto com patrocínios, e grandes marcas envolvidas, se tornando esporte-espetáculo, e é talvez o mais conhecido atualmente pelas pessoas, por ser mais veiculado.
A principal mistificação referente a esse conteúdo da cultura corporal é a ligação que é atribuída entre lutas e brigas, muitas vezes divulgada pela mídia. Este é um dos fatores que fazem com que esse conteúdo da cultura corporal seja negado em grande parte das aulas de Educação Física, pela ideia predominante que essas práticas poderiam estimular brigas nas escolas, aliado ao estresse cotidiano vivido pelos alunos, e às estatísticas que apontam um alto índice de violência no ambiente escolar. Por sua vez, entendemos que os preconceitos e equívocos só serão superados se este conteúdo for tratado nas aulas, possibilitando que os alunos tenham acesso ao conhecimento científico da área.
A falta de materiais para o estudo relacionado às lutas também é um ponto que dificulta o processo. É necessário que os educadores tenham uma visão otimista e vontade de transformação, e assim buscar através de estudos e leituras o conhecimento, fazendo com que este desenvolva estratégias para apresentar os temas referentes a este campo da cultura corporal.
Nessa perspectiva, as aulas devem priorizar o conhecimento conjunto, onde os professores podem promover diálogos, onde os alunos possam expor seus conhecimentos sobre o conteúdo, onde a partir disso o professor irá problematizar esses conhecimentos, fazendo com que haja reflexão e interesse de aprender mais.
O professor deve disponibilizar instrumentos para que os alunos possam demonstrar o aprendizado através do conteúdo e construírem práticas que demonstrem o que irão fazer a partir da nova visão, do novo saber, ou do saber transformado.
Observando um pouco sobre o princípio que rege a pedagogia das lutas, podemos perceber que é priorizado o diálogo, para que através desse haja entendimento da diferença entre brigas e lutas, dando espaço aos alunos se comunicarem, e que eles próprios façam uma reflexão a cerca da diferença entre essas duas manifestações, para que assim os alunos possam praticá-las, aproximando-se uns dos outros, permitindo o toque corporal entre os colegas através de atividades que envolvam os alunos, promovendo o respeito mútuo e o respeito com o colega.
O contato físico também pode ser um contribuinte para as lutas, que geralmente é tido como impossibilitado durante as outras práticas corporais. Assim como o conhecimento dos vários tipos de lutas, suas particularidades e suas regras, optando por boas estratégias, a aula de Educação Física pode oferecer espaço/tempo para a vivência deste contato, inclusive tencionando para uma significação, e, possivelmente, contribuindo na participação daqueles que se negam a participar das outras práticas corporais.
Temos ciência que não é fácil introduzir as lutas nas aulas de Educação Física, conforme apresentamos aqui. Porém, nós, professores, devemos encontrar meios para diversificar os conteúdos, apresentar o novo aos alunos, garantindo o acesso aos principais conhecimentos da cultura corporal, promovendo a reflexão, o desenvolvimento e o aprendizado através das lutas.


SUGESTÕES DE VÍDEOS




QUESTÕES  PROBLEMATIZADORAS

  • Como conheceu as lutas?
  • É possível fazer lutas na sua escola?
  • Quais maiores dificuldades na sua opinião, para a realização das aulas de lutas? 



REFERÊNCIAS UTILIZADAS

FERREIRA, H. S. A utilização das lutas como conteúdo das aulas de educação física. Revista digital Efdeportes.com. Bueno Aires, ano 13, n. 130, março de 2009.
Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd130/lutas-como-conteudo-das-aulas-de-educacao-fisica.htm acessado em : 25 de Fevereiro de 2014.

BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais - Educação Física. Brasília: MEC/SE, 1997. 96p. 

RONDINELI, P.Lutas não é violência: A importância das lutas nas aulas de educação física. Disponível em: http://www.brasilescola.com/educacao-fisica/luta-nao-violencia-importancia-das-lutas-nas-aulas-.htm .Acessado em: 27 de Janeiro de 2014.


PARKOUR

Franciele Couto Sandes

 O Parkour é uma manifestação da cultura corporal que teve origem na França nos anos de 1980. Baseando-se no método natural, desenvolveu-se a partir de habilidades desenvolvidas através das atividades rotineiras. O método foi dividido em dez habilidades: andar, correr, saltar, escalar, equilibrar-se, arremessar, levantar, lutar, nadar e quadrupedia. Foi David Belle que fez adaptações de algumas técnicas e passou a se dedicar e treinar os movimentos, ele já havia praticado ginástica e atletismo, o que o ajudou na execução dos movimentos, e não podemos deixar de citar que seus parentes também tinham relação com o esporte. Sua principal brincadeira quando criança foi um dos fatores primordiais para a criação do Parkour.

Minha história começa em Lisses, França, onde, quando crianças, eu e meus amigos simplesmente começamos a seguir nosso desejo natural de correr pular e brincar; encontramos maneiras diferentes de nos locomover pela nossa cidade natal, ao invés de andar nas calçadas como todos faziam. Nós pulávamos em paredes, grades, pequenos postes... Mas, enquanto a maioria das pessoas abandona estas brincadeiras quando chega a idade adulta, nós continuamos. (FOUCAN, 2008, p.05).

            A cidade onde o Belle morava, Lisses (França), era um subúrbio onde havia muita violência. A enorme diferença ente as classes sociais fomentava a gritante violência, presente principalmente nos bairros mais pobres. Isso contribuía para que as crianças se movimentassem com velocidade para protegerem-se da violência existente no local.
Segundo David Belle, “o espírito no Parkour é guiado em artes a superar todos os obstáculos em seu próprio caminho como se estivesse em uma emergência”.
O Parkour tem como objetivo superar os próprios medos dos praticantes, enfrentar os desafios que surgirem no dia a dia, ultrapassar os muros, os medos, a insegurança, utilizando para isso movimentos naturais do corpo humano, como correr, saltar e escalar, em associação com técnicas específicas que melhoram o desempenho do praticante perante o ambiente, visando pouco gasto de energia e ganho de tempo. Trata-se de uma prática que explora todo o potencial de quem pratica. Há necessidade de desenvolver o corpo que é usado como única ferramenta para a atividade do Parkour.
 De acordo com Bianche apud Cássaro (2008), quem pratica o Parkour ganha o nome de traceur para o sexo masculino, e a traceuse para o sexo feminino. Este nome é derivado de tracer, que significa ir rápido. É essencial para um bom desempenho das atividades terem cautela nos movimentos, é preciso observar três restrições: analisar a capacidade de realizar o movimento, se realmente está preparado; o nível de complexidade que o movimento exige; e analisar o ambiente em que será executado, se é um ambiente rotineiro ou se é um local novo, esses aspectos podem influenciar na segurança e no movimento que será executado.
O Parkour chega ao Brasil por volta de 2004 através da internet, jovens de São Paulo e Brasília começaram a estudar sobre a modalidade, assistiram vídeos na internet criados por Devid Belle e começaram a imitá-lo. Com o conhecimento da modalidade, comunidades foram sendo criadas com o intuito de passar o conhecimento para outras pessoas que se interessassem pelo esporte e, por ventura, quisessem participar. A modalidade enfrentou preconceito da sociedade, os praticantes eram confundidos como vândalos, pois sua prática ocorria em locais singulares e não convencionais. Atualmente, graças principalmente à mídia, o Parkour vem conquistando seu espaço, por ser um esporte novo, que atrai o público jovem. O esporte já vem marcando presença em filmes, em teatro, vídeos na internet e programas televisivos.
O curioso é que as exibições espetaculares do Parkour são um dos principais elementos na popularização dessa prática, inclusive no que diz respeito aos seus ideais de elevação espiritual e filosofia de vida. Incríveis demonstrações de David Belle em vídeos na internet ou em produções ou em produções do cinema, como o que ele protagoniza um filme publicitário de canal BBC ou no filme B13 13º Distrito (em que ele interpreta o personagem Leito), são uma das reconhecidas fontes de disseminação do Parkour. Depois disso, até James Bond, o imortal agente secreto britânico, deu mostras de ter se interessado pela “arte do deslocamento”, como também é conhecido o Parkour. Em 007 e Cassino Royale, Bond valeu-se das técnicas de parkour para perseguir um criminoso, que por acaso, ou nem tanto, é interpretado por Sebastien Foucan. (DIAS, 2011).

Visando a disseminação que o Parkour está tendo, podemos pensar em possibilidades de sua inserção no âmbito escolar. A escola é um lugar que favorece novas experiências, nada melhor que um novo esporte direcionado ao público adolescente, que pode despertar do interesse pelas aulas de Educação Física. É importante ter paciência e fazer as coisas com cautela para que não ocorra nenhum acidente. É preciso tomar alguns cuidados para praticar à modalidade, tais como: usar alguns equipamentos de proteção, capacete, joelheira, cotoveleira, é necessário que esses equipamentos não atrapalhem o movimento das articulações. Ter ao chão tatame para diminuir o impacto em caso de quedas e aprender técnicas de queda podem contribuir para evitar possíveis lesões. A utilização de roupas leves e tênis são essenciais para a proteção do praticante e para um bom desenvolvimento dos movimentos que serão executados.

SUGESTÕES DE VÍDEOS

QUESTÕES PROBLEMATIZADORAS
·         Através do que você conheceu o Parkour?
·         Quando você pensa em Le Parkour o que vem em sua cabeça?
·         Você acha possível à prática de Parkour na sua escola? Cite as possíveis dificuldades que serão encontradas.

REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

BONETTO; P. X. R. “Le” Parkour no Júlio: um relato de “transformação” curricular. São Paulo, 2011. Disponível em: <http://www.gpef.fe.usp.br/semef2012/relato_Pedro_Bonetto_Le_Parkour.pdf> acessado em 27 de janeiro de 2014.

CÁSSARO, E. R. Atividades de aventura: aproximações preliminares na rede municipal de ensino de Maringá; Universidade Estadual de Londrina: Londrina; 2011.

DIAS, C. História(s) do Sport: Percurso do percurso. Disponível em: <http://historiadoesporte.wordpress.com/2011/01/24/percursos-do-percurso/> acessado em 27 de janeiro de 2014.

LORDÊLLO, A. F. Abordagem histórico-crítica do Parkour, seu processo de expansão e realidade na cidade de salvador/BA; UFBA: Salvador, 2011.


STRAMANDINOLI, A. L. M.; REMONTE, J. G. MARCHETTI, P. H. Parkour: História e conceitos da modalidade. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – v. 11, n. 2, 2012, p. 13-25.