Lutas como conteúdo das aulas de Educação Física
Paula Cristina Santos Silva
As lutas fazem parte da cultura corporal, sendo
assim, são conteúdos que podem (e deveriam) ser ensinados nas aulas de Educação
Física. Segundo os PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais (1997):
As lutas são
disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser subjugado(s), mediante técnicas e
estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um
determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa. Caracterizam-se
por uma regulamentação específica, a fim de punir atitudes de violência e de
deslealdade. Podem ser citados como exemplo de lutas desde as brincadeiras de
cabo-de-guerra e braço-de-ferro até as práticas mais complexas da capoeira, do
judô e do caratê. (PCN, 1997, p.37)
Podemos
observar que este conteúdo, como os outros, requer reflexão cuidadosa na
seleção e em seu tratamento pedagógico, visto a riqueza de manifestações que
compõem as Lutas. Ao mesmo tempo, sua relevância social demanda que a escola
ofereça condições para que os alunos se apropriem dos fundamentos
teórico-prático deste conteúdo clássico da cultura corporal. Entretanto, esta
não é uma tarefa fácil, já que há muitos preconceitos que perpassam este conteúdo,
que geralmente está às margens dos planos de ensino de professores.
Desta
forma, os professores negam os conhecimentos referentes às lutas, e que podem
ser construídos através dela, por variadas motivações, como aponta Ferreira (2009):
São vários os embates acerca dessa temática, onde podemos citar
algumas, como o que ocorre durante a formação dos professores, onde geralmente
é enfatizada a técnica, a execução prática das lutas nos programas e cursos
superiores, sendo deixado lado os conhecimentos sobre os
fundamentos filosóficos das lutas por exemplo, ou ainda deixar o “saber a prática” ser mais
importante do que conhecer os conteúdos e em que as lutas podem contribuir para
a formação dos alunos enquanto indivíduos emancipados. A necessidade de
conhecer sobre o tema, implica na forma de fazer avaliação em sala de aula, até
para avaliar as dificuldades dos alunos, tanto nas práticas quanto em alguma
questão teórica. (FERREIRA, 2009, p.3)
Nesse
sentido, as dificuldades e conflitos enfrentados pelos professores são acentuados,
em função de haver medo de trabalhar/tratar o conteúdo. Entre outros motivos,
destaca-se a técnica ou a “falta” dela, que apesar de ser tratada na graduação,
segundo os professores, se dá de modo insuficiente.
São
vários os temas contemporâneos vinculados às lutas, um deles é o tratamento
atual de um modo geral dado às lutas, principalmente pela mídia, sendo divulgada
como forma de violência, ou ainda sendo meios de garantir altos lucros, como o
MMA (Artes Marciais Mistas), que movimenta um rendimento alto com patrocínios,
e grandes marcas envolvidas, se tornando esporte-espetáculo, e é talvez o mais
conhecido atualmente pelas pessoas, por ser mais veiculado.
A
principal mistificação referente a esse conteúdo da cultura corporal é a
ligação que é atribuída entre lutas e brigas, muitas vezes divulgada pela mídia.
Este é um dos fatores que fazem com que esse conteúdo da cultura corporal seja
negado em grande parte das aulas de Educação Física, pela ideia predominante que
essas práticas poderiam estimular brigas nas escolas, aliado ao estresse
cotidiano vivido pelos alunos, e às estatísticas que apontam um alto índice de
violência no ambiente escolar. Por sua vez, entendemos que os preconceitos e equívocos
só serão superados se este conteúdo for tratado nas aulas, possibilitando que
os alunos tenham acesso ao conhecimento científico da área.
A
falta de materiais para o estudo relacionado às lutas também é um ponto que
dificulta o processo. É necessário que os educadores tenham uma visão otimista
e vontade de transformação, e assim buscar através de estudos e leituras o
conhecimento, fazendo com que este desenvolva estratégias para apresentar os
temas referentes a este campo da cultura corporal.
Nessa
perspectiva, as aulas devem priorizar o conhecimento conjunto, onde os
professores podem promover diálogos, onde os alunos possam expor seus
conhecimentos sobre o conteúdo, onde a partir disso o professor irá
problematizar esses conhecimentos, fazendo com que haja reflexão e interesse de
aprender mais.
O
professor deve disponibilizar instrumentos para que os alunos possam demonstrar
o aprendizado através do conteúdo e construírem práticas que demonstrem o que
irão fazer a partir da nova visão, do novo saber, ou do saber transformado.
Observando
um pouco sobre o princípio que rege a pedagogia das lutas, podemos perceber que
é priorizado o diálogo, para que através desse haja entendimento da diferença
entre brigas e lutas, dando espaço aos alunos se comunicarem, e que eles
próprios façam uma reflexão a cerca da diferença entre essas duas manifestações,
para que assim os alunos possam praticá-las, aproximando-se uns dos outros,
permitindo o toque corporal entre os colegas através de atividades que envolvam
os alunos, promovendo o respeito mútuo e o respeito com o colega.
O
contato físico também pode ser um contribuinte para as lutas, que geralmente é
tido como impossibilitado durante as outras práticas corporais. Assim como o
conhecimento dos vários tipos de lutas, suas particularidades e suas regras,
optando por boas estratégias, a aula de Educação Física pode oferecer
espaço/tempo para a vivência deste contato, inclusive tencionando para uma significação, e, possivelmente, contribuindo na participação daqueles que se
negam a participar das outras práticas corporais.
Temos ciência que não é fácil introduzir as
lutas nas aulas de Educação Física, conforme apresentamos aqui. Porém, nós,
professores, devemos encontrar meios para diversificar os conteúdos, apresentar
o novo aos alunos, garantindo o acesso aos principais conhecimentos da cultura
corporal, promovendo a reflexão, o desenvolvimento e o aprendizado através das
lutas.
SUGESTÕES DE VÍDEOS
QUESTÕES PROBLEMATIZADORAS
- Como conheceu as lutas?
- É possível fazer lutas na sua escola?
- Quais maiores dificuldades na sua opinião, para a realização das aulas de lutas?
REFERÊNCIAS UTILIZADAS
FERREIRA, H. S. A utilização
das lutas como conteúdo das aulas de educação física. Revista digital Efdeportes.com. Bueno Aires, ano 13, n. 130, março
de 2009.
Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd130/lutas-como-conteudo-das-aulas-de-educacao-fisica.htm acessado em : 25 de Fevereiro de 2014.
BRASIL. SECRETARIA DE
EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros
Curriculares Nacionais - Educação Física. Brasília: MEC/SE, 1997. 96p.
RONDINELI, P.Lutas não é violência: A importância das lutas nas aulas de educação física. Disponível em: http://www.brasilescola.com/educacao-fisica/luta-nao-violencia-importancia-das-lutas-nas-aulas-.htm .Acessado em: 27 de Janeiro de 2014.
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