quinta-feira, 14 de agosto de 2014


Lutas como conteúdo das aulas de Educação Física



Paula Cristina Santos Silva



As lutas fazem parte da cultura corporal, sendo assim, são conteúdos que podem (e deveriam) ser ensinados nas aulas de Educação Física. Segundo os PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais (1997):

As lutas são disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser subjugado(s), mediante técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa. Caracterizam-se por uma regulamentação específica, a fim de punir atitudes de violência e de deslealdade. Podem ser citados como exemplo de lutas desde as brincadeiras de cabo-de-guerra e braço-de-ferro até as práticas mais complexas da capoeira, do judô e do caratê. (PCN, 1997, p.37)

Podemos observar que este conteúdo, como os outros, requer reflexão cuidadosa na seleção e em seu tratamento pedagógico, visto a riqueza de manifestações que compõem as Lutas. Ao mesmo tempo, sua relevância social demanda que a escola ofereça condições para que os alunos se apropriem dos fundamentos teórico-prático deste conteúdo clássico da cultura corporal. Entretanto, esta não é uma tarefa fácil, já que há muitos preconceitos que perpassam este conteúdo, que geralmente está às margens dos planos de ensino de professores.
Desta forma, os professores negam os conhecimentos referentes às lutas, e que podem ser construídos através dela, por variadas motivações, como aponta Ferreira (2009):
São vários os embates acerca dessa temática, onde podemos citar algumas, como o que ocorre durante a formação dos professores, onde geralmente é enfatizada a técnica, a execução prática das lutas nos programas e cursos superiores, sendo deixado lado os conhecimentos sobre os fundamentos filosóficos das lutas por exemplo, ou ainda  deixar o “saber a prática” ser mais importante do que conhecer os conteúdos e em que as lutas podem contribuir para a formação dos alunos enquanto indivíduos emancipados. A necessidade de conhecer sobre o tema, implica na forma de fazer avaliação em sala de aula, até para avaliar as dificuldades dos alunos, tanto nas práticas quanto em alguma questão teórica. (FERREIRA, 2009, p.3)
Nesse sentido, as dificuldades e conflitos enfrentados pelos professores são acentuados, em função de haver medo de trabalhar/tratar o conteúdo. Entre outros motivos, destaca-se a técnica ou a “falta” dela, que apesar de ser tratada na graduação, segundo os professores, se dá de modo insuficiente.
São vários os temas contemporâneos vinculados às lutas, um deles é o tratamento atual de um modo geral dado às lutas, principalmente pela mídia, sendo divulgada como forma de violência, ou ainda sendo meios de garantir altos lucros, como o MMA (Artes Marciais Mistas), que movimenta um rendimento alto com patrocínios, e grandes marcas envolvidas, se tornando esporte-espetáculo, e é talvez o mais conhecido atualmente pelas pessoas, por ser mais veiculado.
A principal mistificação referente a esse conteúdo da cultura corporal é a ligação que é atribuída entre lutas e brigas, muitas vezes divulgada pela mídia. Este é um dos fatores que fazem com que esse conteúdo da cultura corporal seja negado em grande parte das aulas de Educação Física, pela ideia predominante que essas práticas poderiam estimular brigas nas escolas, aliado ao estresse cotidiano vivido pelos alunos, e às estatísticas que apontam um alto índice de violência no ambiente escolar. Por sua vez, entendemos que os preconceitos e equívocos só serão superados se este conteúdo for tratado nas aulas, possibilitando que os alunos tenham acesso ao conhecimento científico da área.
A falta de materiais para o estudo relacionado às lutas também é um ponto que dificulta o processo. É necessário que os educadores tenham uma visão otimista e vontade de transformação, e assim buscar através de estudos e leituras o conhecimento, fazendo com que este desenvolva estratégias para apresentar os temas referentes a este campo da cultura corporal.
Nessa perspectiva, as aulas devem priorizar o conhecimento conjunto, onde os professores podem promover diálogos, onde os alunos possam expor seus conhecimentos sobre o conteúdo, onde a partir disso o professor irá problematizar esses conhecimentos, fazendo com que haja reflexão e interesse de aprender mais.
O professor deve disponibilizar instrumentos para que os alunos possam demonstrar o aprendizado através do conteúdo e construírem práticas que demonstrem o que irão fazer a partir da nova visão, do novo saber, ou do saber transformado.
Observando um pouco sobre o princípio que rege a pedagogia das lutas, podemos perceber que é priorizado o diálogo, para que através desse haja entendimento da diferença entre brigas e lutas, dando espaço aos alunos se comunicarem, e que eles próprios façam uma reflexão a cerca da diferença entre essas duas manifestações, para que assim os alunos possam praticá-las, aproximando-se uns dos outros, permitindo o toque corporal entre os colegas através de atividades que envolvam os alunos, promovendo o respeito mútuo e o respeito com o colega.
O contato físico também pode ser um contribuinte para as lutas, que geralmente é tido como impossibilitado durante as outras práticas corporais. Assim como o conhecimento dos vários tipos de lutas, suas particularidades e suas regras, optando por boas estratégias, a aula de Educação Física pode oferecer espaço/tempo para a vivência deste contato, inclusive tencionando para uma significação, e, possivelmente, contribuindo na participação daqueles que se negam a participar das outras práticas corporais.
Temos ciência que não é fácil introduzir as lutas nas aulas de Educação Física, conforme apresentamos aqui. Porém, nós, professores, devemos encontrar meios para diversificar os conteúdos, apresentar o novo aos alunos, garantindo o acesso aos principais conhecimentos da cultura corporal, promovendo a reflexão, o desenvolvimento e o aprendizado através das lutas.


SUGESTÕES DE VÍDEOS




QUESTÕES  PROBLEMATIZADORAS

  • Como conheceu as lutas?
  • É possível fazer lutas na sua escola?
  • Quais maiores dificuldades na sua opinião, para a realização das aulas de lutas? 



REFERÊNCIAS UTILIZADAS

FERREIRA, H. S. A utilização das lutas como conteúdo das aulas de educação física. Revista digital Efdeportes.com. Bueno Aires, ano 13, n. 130, março de 2009.
Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd130/lutas-como-conteudo-das-aulas-de-educacao-fisica.htm acessado em : 25 de Fevereiro de 2014.

BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais - Educação Física. Brasília: MEC/SE, 1997. 96p. 

RONDINELI, P.Lutas não é violência: A importância das lutas nas aulas de educação física. Disponível em: http://www.brasilescola.com/educacao-fisica/luta-nao-violencia-importancia-das-lutas-nas-aulas-.htm .Acessado em: 27 de Janeiro de 2014.


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